Qual o jeito certo de ensinar? A melhor maneira de apontar erros? E como motivar? Parece papo de grandes corporações, mas a forma como você trata esses conceitos no dia a dia com seu filho vai fazer diferença no desenvolvimento dele.

Em entrevista, Gilberto Guimarães, consultor de carreira e autor do livro Liderança Positiva (ed. Évora), falou pela primeira vez sobre essa ideia aplicada à educação das crianças

No seu livro, que é voltado para executivos, você fala sobre as características de um bom líder. Qual é o primeiro passo que um pai tem que dar para assumir esse papel?

Gilberto Guimarães: Ele precisa perceber as aptidões do filho e, depois, dar oportunidade para treinar aquilo repetitivamente. Isso porque as pessoas se dedicam mais ao que dá prazer para elas. Se eu gosto de pintar, por exemplo, vou me aprofundar no assunto. E, me aprofundando, ganharei um pouco mais de excelência na execução. O sucesso é a soma desse dom natural com treinamento e otimismo, que é aquela expectativa de fazer sempre mais e melhor.

Mas o que acontece se o pai identificar uma aptidão na criança, mas ela não quiser treiná-la? É papel dele insistir?

G.G.: Sim. Uma criança só vê o aqui e agora. Claro que vai dizer: “Quero ir brincar com meu amigo em vez de jogar tênis”. Ela não tem a visão a longo prazo. Por isso, existe a necessidade da imposição do pai. Mas a criança também tem que gostar do que está fazendo!

Mas é uma medida difícil porque, às vezes, os pais podem cobrar demais os filhos...

G.G.: É. Em alguns casos, o pai não desenvolve o dom da criança, e sim busca a retribuição de uma frustração pessoal. Ele fala: “Eu gostaria de ser um grande tenista. Não fui por alguma razão, então, meu filho terá que ser”. Assim não dá certo. Por isso que, antes de tudo, cabe ao adulto descobrir o que seu filho mais gosta de fazer. Provavelmente é ali que existe um dom natural.

E como um pai pode reconhecer esse talento no filho?

G.G.: Primeiro, ele precisa se autoconhecer e ter um grau de equilíbrio emocional muito forte. Sem isso, pode descarregar na criança a própria insegurança. Aí, ela não vai desenvolver as necessidades dela, e sim tentar responder às demandas do pai. Por outro lado, grande parte dos pais é boa observadora. Para eles, é natural perceber as aptidões dos filhos e procurar, na medida do possível, incentivá-los. Só precisamos tomar cuidado na hora de criticar... A gente acha que faz a crítica para evitar que a pessoa erre. Na verdade, seria mais eficaz dizer o que é certo e o que é errado e deixar que ela escolha. O problema é que muitos ficam inseguros ao delegar a decisão para a criança. Não tem motivo: normalmente, ela vai escolher o certo, porque é o que traz benefícios.¬

Existe um contraponto sobre esse assunto, pois, atualmente, dizem que as crianças não recebem muitas críticas...

G.G.: Alguns pais procuram não responsabilizar os filhos com medo de destruir a autoestima deles. Mas isso não faz sentido, pois o próprio conceito de autoestima é a capacidade de se perceber e saber suas limitações. Então a ideia é: defina responsabilidades, defina limites para a criança. Se eu coloco um garoto de 1,60 m para jogar basquete no meio de adultos e ele não consegue não é um problema de autoconfiança, e sim um erro de solicitação, de demanda. Estou pedindo algo que ele não pode fazer! Logo, cabe ao pai não só evitar o excesso de autoestima, como não colocar a criança em situações em que ela efetivamente se sinta inadequada. Esse equilíbrio é o que caracteriza um líder positivo. E a mesma coisa vale nas empresas: se eu pedir para alguém trabalhar em algo que não sabe, a chance de a pessoa errar é mais alta. Se ela fizer errado, será criticada e mal-avaliada. Se for criticada e mal-avaliada, a autoestima diminuirá. Com baixa autoestima, ela vai errar de novo. É um ciclo vicioso.

E como funciona essa liderança positiva quando transportada para a educação?

G.G.: Há três conceitos fundamentais para ser um líder positivo. O primeiro é conhecer as capacidades e as preferências comportamentais do liderado, que, nesse caso, é o seu filho. É preciso saber do que ele gosta, como gosta e tentar, na medida do possível, exigir esforços nas áreas preferidas dele. Outro elemento é criar na sua casa um ambiente de não crítica, em que você respeite o conceito de responsabilidade pelos acertos e pelos erros – mas sem culpar a pessoa pelo erro ou, no outro extremo, fingir que ela não teve participação nele. O terceiro ponto extremamente importante é desenvolver o otimismo, que é a capacidade de esperar que o futuro seja melhor do que o presente.

E uma pessoa pode ser naturalmente pessimista ou otimista?

G.G.: Um bebê nasce com o que chamamos de “preceitos da lei natural”, que são os princípios mais básicos da existência do ser humano. Um deles, e o mais primordial, é o instinto de sobrevivência. O que muitas vezes a gente vê acontecendo é a destruição desse otimismo na criança pelos pais. Você vai ensinando-a a ser desamparada. Quando o bebê chora, ele se sente desamparado e acredita que alguém vai atendê-lo. Ele tem otimismo – do contrário, não faria nada. A partir do momento em que acha que ninguém mais vai ajudá-lo, para de gritar. O problema é que, às vezes, o pai bloqueia esse otimismo, que é inato ao ser humano, ainda que sem querer. Ele diz: “Deixa para lá, isso não é para você” Aí, a criança nem chega a tentar por achar que é impossível...

No seu livro, você diz que, no ambiente de trabalho, espera-se que uma pessoa tenha mais autonomia, que ela saiba cuidar do próprio horário. Como isso funciona na família?

G.G.: O nome da palavra é confiança. Se você confia, dá liberdade para a pessoa. Se não confia, impõe a ela uma forma, tolhendo a automia dela. A partir daí, essa pessoa fica dependente das suas opiniões ou insegura na hora de escollher.

E isso acontece desde pequeno ?

G.G.: Desde pequeno. Se você faz exatamente o que mandaram, você depende da ordem para fazer de novo. Somos prematuros e, sem cuidados, morremos. Apesar de termos o nível de racionalidade mais alto das criaturas, não conseguimos enfrentar os primeiros anos de vida sozinhos, totalmente sem assistência. Assim que nascemos, dependemos do outro. Mas, à medida que a criança cresce, o pai tem que ensiná-la a ser independente. Você tem que confiar que ela saberá discernir sem os seus cuidados a cada minuto.

Isso é o que vai criar a autonomia...

G.G.: Sim. Seu filho vai escolher os próprios caminhos na expectativa otimista de que eles serão bons. Agora, se ele depender do caminho do outro, também vai esperar que o outro assuma a responsabilidade pelas atitudes dele – e faz isso por medo de errar. Quem tem medo de errar nunca se torna líder, porque não sabe decidir. E você tem que ensinar seu filho a liderar. Então, ensine-o a fazer escolhas. Permita que ele tome as próprias decisões, ainda que mínimas, como definir a maneira que come, coloca a roupa, lava a orelha, escova os dentes e faz a lição de casa... Caso isso não aconteça, ele vai ficar dependente eternamente do que você diz. Isso pode tornar o ego da criança frágil – o que é terrível para o resto da vida pois, no futuro, ela não saberá fazer escolhas adequadas, não terá opinião própria e pode até não ter a noção do que é certo e errado.

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