Cada vez mais cedo, elas aprendem a movimentar os dedos ágeis pela tela do tablet. Mas será que isso faz mal?

Não se surpreenda se o seu filho pequeno descobrir um novo aplicativo no seu iPad ou ultrapassar (de loooonge) o seu recorde no Angry Birds do celular  mesmo que ele ainda não saiba ler ou escrever. Uma pesquisa do OfCom, órgão regulador da indústria de comunicação no Reino Unido, realizada com 200 famílias com filhos entre 3 e 4 anos, revelou que metade das crianças nessa faixa etária já são boas conhecedoras de tecnologia. Não é à toa que 1 em cada 10 já utiliza tablets para jogar, visitar websites e assistir a filmes e programas de televisão, como revelou o estudo.

E não adianta dizer que essas crianças são precoces demais e que com essa idade você brincava de boneca ou empurrava carrinhos: essa geração high-tech é, antes de tudo, um reflexo do comportamento dos próprios pais. “As crianças nessa faixa etária são filhas de pais muito plugados, que usam a tecnologia tanto por prazer quanto para o trabalho. Como elas aprendem por imitação, é natural que tenham facilidade para desenvolver essa capacidade de lidar com o mundo digital”, explica Quézia Bombonatto, presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia (SP).

Vale lembrar também que o tablet e demais tecnologias touch ocupam agora uma posição que, antigamente, pertencia à televisão. Desde tempos atrás, as crianças pequenas já eram capazes de ligar e desligar a TV ou mesmo de usar o controle remoto para mudar os canais e ajustar o volume. Hoje, é como se as crianças tivessem trocado de objeto de curiosidade. Isso se deve principalmente ao fato de que, com o recurso touch, basta deslizar os dedos pela tela para utilizar jogos e aplicativos. Dessa forma, os pequenos podem acessar conteúdos digitais mesmo antes de serem alfabetizados.

No entanto, mesmo que as crianças menores consigam manipular aparelhos supermodernos, isso não quer dizer que elas já sejam capazes de atribuir significado a eles. Isso porque, do ponto de vista neurocognitivo, é só por volta dos 5 ou 6 anos que elas irão entender a lógica do aparelho, perceber qual é o seu fim e por que motivo precisam realizar determinadas ações. Até então, elas aprendem basicamente por ação e reação. Ou seja, seu filho pequeno percebe que o personagem se move quando ele toca na tela do tablet mas, a princípio, não entende que esse recurso é necessário para atingir o objetivo do jogo e apenas se diverte com o movimento em si.

Um dos motivos que torna o mundo virtual tão atraente aos pequenos é justamente a interatividade que oferece. Ao tocar na tela, as cores mudam, novas formas surgem, o aparelho faz barulho e, dessa forma, a criança observa instantaneamente as consequências de suas ações. Só que, ao mesmo tempo em que esse atributo prende a atenção dos pequenos, mais para frente ele pode também gerar muita frustração. “O modelo desses jogos virtuais é muito atraente por oferecer sucesso instantâneo: se você continuar jogando, vai passar de fase. Mas, a longo prazo, deixa as crianças muito ansiosas em obter resultados imediatos”, alerta Bombonatto. E sabemos que na vida as coisas não funcionam bem assim. Por isso, é preciso equilíbrio na hora de deixar seu filho se divertir com os gadgets e oferecer outras opções para ele.

Durante uma brincadeira com blocos de montar, por exemplo, a criança precisa de um grande esforço de elaboração e persistência para equilibrar as peças até que elas se encaixem e cheguem a uma altura razoável. O resultado, não tão imediato quanto um toque no tablet, faz com que seu filho fique orgulhoso de sua obra e tente empilhar os blocos em construções cada vez mais altas, o que desenvolve a perseverança. Sem contar que é nessa hora que a criança exercita a sua criatividade, já que aqueles blocos empilhados viram um castelo enorme ameaçado por um terrível dragão que virá derrubá-lo.

De bem com a tecnologia

Ainda assim, é inegável o potencial das novas tecnologias para estimularem o aprendizado das crianças, o que se deve à capacidade de despertar a curiosidade infantil. O filho de Luciana Ruffo, membro do Núcleo de Pesquisas de Psicologia em Informática da PUC – São Paulo, aprendeu com menos de 2 anos a identificar cores e formas por meio de jogos no iPad. Porém, mesmo com o aprendizado do filho, ela ressalta: “Qualquer jogo sozinho, seja real ou virtual, é apenas entretenimento. Para que exista uma função educativa, é necessário o acompanhamento de um adulto”.

Por isso, mesmo que o seu filho esteja quietinho brincando no computador ou com o tablet, a sua presença é essencial. “O papel do pai está sendo delegado para o tablet, que funciona como se fosse uma babá de luxo: enquanto a criança está entretida com o aparelho eletrônico, ela está quieta, concentrada e não dá trabalho”, alerta Bombonatto. É nesse ponto que vale uma reflexão para se pensar na maneira como essa tecnologia deve ser tratada no dia a dia. Afinal, o papel dos pais na educação não é algo transferível e aparelho nenhum pode substituir a interação entre você e o seu filho.

Abaixo, confira dicas para que a família toda esteja de bem com a tecnologia

  • Limite o tempo que o seu filho passa no computador, celular ou tablets. Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, o tempo máximo por dia em frente a telas é de 2 horas.
  • Não deixe que a estadia no mundo virtual atrapalhe a rotina da criança: não dá para comer com o iPad na frente, ou não querer ir tomar banho porque prefere jogar.
  • Na hora de dizer para o seu filho que o tempo com o computador acabou, proponha uma nova atividade. Pode ser levá-lo para a cozinha e ajudar você no jantar, dar uma volta com o cachorro no quarteirão ou até dançar no meio da sala.
  • É importante que os pais tenham o controle do conteúdo que a criança está acessando online. Não tenha medo de estar “invadindo a privacidade” dos filhos. É fundamental  e seguro  que você saiba o que as crianças estão vendo ou jogando na web.
  • A participação dos pais é insubstituível  tanto nas atividades reais como nas virtuais. Por isso, procure jogos com os quais você pode brincar junto com a criança, como o Draw Something Free, em que uma pessoa desenha um objeto na tela e a outra tem que adivinhar o que é. Seu filho e você vai amar!

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