Estimular o uso de dois idiomas na infância traz rapidez de raciocínio, mas retarda a aquisição de vocabulário. Entenda o porquê.

Você sonha em ver seu filho falando logo outra língua? Pesquisadores da Universidade de York, no Canadá, constataram que as crianças bilíngues possuem maior velocidade de raciocínio ao realizar mais de uma tarefa por vez. Por outro lado, costumam demorar para adquirir um vocabulário rico e compreender o funcionamento gramatical dos idiomas.

Os cientistas organizaram um teste com 104 crianças de 6 anos. Dentre elas, havia quem falasse somente inglês e outras que dominavam também chinês, francês ou espanhol. O desafio proposto era pressionar um botão enquanto passavam imagens de animais e de cores na tela do computador. Quando as categorias das figuras mudavam rapidamente, as crianças bilíngues respondiam com mais rapidez. “Aprender um idioma precocemente estimula áreas diferentes do cérebro”, justifica Antonio Carlos de Farias, neurologista do Hospital Pequeno Príncipe (PR). “A exposição precoce a outra língua reflete nas atividades de linguagem.” Reconhecer cores, como proposto nesse estudo, é um exemplo disto.

Na faixa entre 6 meses e 4 anos, há uma janela cerebral nas crianças. Isso significa que estão se formando circuitos de linguagem. Os neurônios, se estimulados, podem fazer novas conexões e especializações. Apresentar um novo idioma ao seu filho, nessa idade, torna a tarefa do aprendizado mais fácil , sim. Há maior chance de ele falar sem sotaque, já que as estruturas nervosas básicas ainda estão em formação. Além disso, as crianças aguçam a compreensão auditiva e tornam-se capazes de distinguir sons semelhantes, como no inglês, bed (cama) e bad (mau). Só de ouvir, elas já vão absorver a língua assim como fazem com o português. “Outra consequência é o aumento da agilidade e das competências cognitivas”, explica Ligia Fonseca Ferreira, professora doutora do Departamento de Letras da Unifesp (SP).

Nesse mesmo estudo, no entanto, os cientistas perceberam outra diferença entre os grupos: em testes de vocabulário e de conhecimentos gramaticais, aquelas que só dominavam o idioma materno tiveram um desempenho superior. Isso costuma ocorrer quando a alfabetização é feita em duas línguas ao mesmo tempo. Associar os símbolos aos sons é um processo mais complexo e que pode trazer confusão aos pequenos. “O melhor é esperar que a criança tenha boa consciência fonológica em seu idioma, para só depois aprender a ler e a escrever em outra língua”, recomenda o neurologista Antonio Carlos.

O que isso significa?

Quando seu filho já conseguir perceber rimas e fonemas e entender como se formam as palavras em português, poderá começar o aprendizado na língua estrangeira. Isso acontece porque a alfabetização é um processo simbólico.

É importante dizer que há diferentes formas de ser bilíngue. Algumas crianças têm o pai e mãe de nacionalidades diferentes e acabam desenvolvendo dois idiomas em casa, desde cedo. “Cada um deve falar em sua língua, sem misturar, para que o filho em fase pré-escolar não se confunda”, explica Ligia. Outra possibilidade é de famílias que imigram e têm de aprender a lidar com um idioma no lar e outro na escola. “O tempo ao qual a criança é exposta a cada língua pode definir a que ela usará no dia-a-dia”, complementa a professora. E, o mais comum aqui no Brasil, é matricular a criança em escolas que incorporem às aulas diárias um idioma além do português.

Se você está pensando em escolher uma instituição bilíngue para seu filho, preste atenção no desempenho dele na Língua Portuguesa primeiramente. Se a criança tem mais de 4 anos e ainda fala com dificuldades, tem atrasos de atenção e problemas de aprendizagem, é melhor esperar um pouco para ensina-la a uma nova língua. Cabe aos pais o dever de casa: matricular seu filho em uma escola que seja acolhedora, calorosa e convidativa. Até para que a família avalie junta o melhor caminho, respeitando as fases de desenvolvimento de cada criança, não importa em qual língua.

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