Você quer muito ter mais um filho, mas ainda não decidiu quando e está adiando a gravidez? Será que dá para esperar? Especialistas em reprodução ajudam a descobrir como estará sua fertilidade até lá.

Quando você faz planos, pensa que talvez esteja faltando um integrante na sua família. Só que não agora. Você e seu companheiro querem esperar o filho crescer um pouco, ou as finanças se estabilizarem, ou mesmo curtir a fase que estão vivendo. E então, surge aquela dúvida que só quem é mulher sente: “Será que ainda estarei fértil quando resolver engravidar de novo?”

Infelizmente, a questão do relógio biológico feminino ainda faz com que a vida familiar precise do mínimo de programação. Pelo menos enquanto a ciência não achar uma solução para isso. Uma pesquisa recente feita com células tronco por estudiosos do Hospital Geral de Massachussets, nos Estados Unidos, e da Universidade de Edimburgo, na Escócia, observou evidências de produção de óvulos na vida adulta de fêmeas de camundongos. Isso significa uma esperança de que existam óvulos novos ao longo de toda a vida feminina. Por serem mamíferos e com material genético praticamente idêntico ao nosso, essa descoberta é bastante importante. “São pesquisas promissoras, mas, por ainda não terem sido comprovadas em humanos, é preciso de mais tempo e estudos”, explica Silvana Chedid, diretora clínica do Instituto Valenciano de Infertilidade (IVI), em São Paulo.

Ao que tudo indica, no futuro a idade não será mais um fator tão crucial para se ter filhos. Pelo menos não fisiologicamente, apesar de você ter de levar em conta seu fôlego e energia. Mas até que isso ocorra, vale contar com alguns fatores na hora de avaliar seu “prazo de validade”. Entenda a influência de cada um deles – e o que você pode fazer para postegar ao máximo sua fertilidade.

1. A primeira gravidez

Vamos começar pela parte boa: o fato de você já ter engravidado é um sinal de que, em teoria, não há nada que impeça uma nova gestação. E a sua primeira gestação também pode ajudar em alguns aspectos. “Dá para dizer, de uma maneira bem simplista, que a gravidez e a amamentação são uma proteção para o corpo da mulher. É como se ele terminasse de amadurecer nessa fase”, explica Alexandre Pupo Nogueira, ginecologista e obstetra do Hospital Sírio-Libanês (SP). Por mais grosseira que a comparação possa parecer, você já deve ter ouvido sobre a necessidade de que as cadelas não castradas tenham uma cria para protegê-las de infecções no aparelho reprodutivo. A gravidez também ajudaria a tornar o útero humano mais resistente, mas, para que isso aconteça, é preciso seguir a rotina anual de exames ginecológicos, que previnem problemas que atrapalham a concepção, como endometriose, ovários policísticos, pólipos e miomas. Por outro lado, a chamada infertilidade secundária não é uma raridade. “As chances de dificuldades para engravidar uma segunda vez são as mesmas que para a primeira”, explica Jonathas Borges Soares, especialista em medicina reprodutiva e membro do Projeto Beta, iniciativa que oferece tratamentos de infertilidade para casais de acordo com suas possibilidades econômicas, em São Paulo. Estima-se que o problema afete cerca de 1 milhão de casais nos EUA e, por aqui, é uma queixa que os especialistas ouvem de 30% dos pacientes nos consultórios. Se a dificuldade para engravidar estiver grande, é possível fazer um exame de contagem dos óvulos (chamado antimülleriano), mas ele só mede a quantidade, e não a qualidade do gameta feminino. E vale lembrar que, de todos os casos diagnosticados de infertilidade, seja numa primeira, segunda ou terceira gravidez, 30% têm causas femininas, ligadas a problemas do aparelho reprodutor. Outros 30% são masculinas, principalmente por conta de varicocele (veias dilatadas nos testículos) ou bloqueios nos canais reprodutores. Outros 17% envolvem questões de ambos os lados e o restante não tem causa definida.

2. A questão do tempo

A cada mês que passa entre uma gestação e outra, além da sua idade aumentar, crescem as possibilidades de você ter alguma infecção ou problema daqueles citados no item anterior. E, a partir dos 35 anos, engravidar fica cada vez mais difícil. Depois dos 43, uma gestação natural é rara. Isso porque, até que se comprove a pesquisa feita com os ratos, você nasce com todos os óvulos. “É a teoria que mais apresenta sinais de ser verdadeira”, explica Edward Carrilho, especialista em reprodução humana da Clínica Engravida, em São Paulo. Estima-se que, na época da primeira menstruação, as mulheres tenham 500 mil óvulos e, se nunca houvessem tomado nenhum anticoncepcional (uma vez que eles inibem a ovulação), menstruariam 500 vezes até a menopausa, que ocorre por volta dos 50 anos. Em cada ciclo, cerca de mil possíveis óvulos entram em ação, mas, normalmente, apenas um fica pronto para ser fecundado. Todos os outros são descartados. Para quem toma pílula, a diferença é que nenhuma célula amadurece, ainda que elas também sejam expelidas. Com o passar dos anos, o número de óvulos na reserva diminui e, como eles estão lá desde sempre, sofrem a ação do tempo. Por isso se diz que, quanto mais velha, menor a qualidade deles – o que implicaria em mais risco de fetos com problemas e abortos.

Para quem está indecisa ou tem receio que o timing seja diferente dos prazos que o organismo estabelece, o congelamento de óvulos é uma alternativa. Ele está cada vez mais comum e o ideal é que seja feito até os 35 anos. “Após essa idade, não é aconselhável, pois já serão óvulos velhos”, explica Fernando Prado, ginecologista e especialista em reprodução humana da Clínica Huntington (SP). Com medicamentos para induzir a ovulação e um procedimento clínico, os especialistas retiram os óvulos e os mantêm em um banco. O tratamento completo, com medicamentos, custa entre R$ 2 mil e R$ 5 mil (mais uma taxa anual, em torno de R$ 1 mil para o banco), e recomenda-se congelar cerca de dez óvulos – que podem resultar em duas gestações e devem ser utilizados preferencialmente nos dez anos seguintes, embora não haja prazos definidos para que eles fiquem impróprios.

3. Fator rotina

É, aqui você vai ler todas aquelas recomendações sobre vida saudável: alimentação correta e balanceada, não fumar, não beber em excesso, praticar atividades físicas, não estar muito acima nem muito abaixo do seu peso ideal... Tudo isso ajuda a manter a fertilidade na ordem do dia. Ou, melhor dizendo, não atrapalha o funcionamento do seu corpo. De acordo com Jonathas Soares, o que influencia de maneira mais aguda a fertilidade é a obesidade ou a magreza excessiva, pois isso afeta diretamente na ovulação, podendo até suspendê-la. Os outros maus hábitos atingem mais na qualidade dos gametas. E lembre-se que os anticoncepcionais não atrapalham a retomada da fertilidade. Basta parar de tomar a pílula para ovular de novo e, no caso de injeções de progesterona e DIU (dispositivo intrauterino com hormônios), o tempo de retomada do ciclo normal varia de três a 12 meses. Por isso, faça as contas conforme o método que você utiliza para saber quando é a hora de parar de tomar.

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